terça-feira, 26 de abril de 2011

You got me



O céu continuava com aquele azul fosco. O Sol despontou do meio das núvens e os barulhos vindos da rua me acordaram, assim como todas as manhãs. Mas eu não era a mesma das outras manhãs.

Você já quis tanto uma coisa, que quando finalmente conseguiu ela perdeu a graça? As vezes idealizamos demais nossos sonhos, e acabamos perdendo a noção da realidade. Aquilo que você pensou que te traria alegria, na verdade só tira sua paz. Frustrante, não?

Me espreguicei e tentei ficar mais alguns minutos deitada entre os edredons e travesseiros tão aconchegantes. Não consegui. Meus pensamentos enchiam minha mente em ritmo explosivo, carregando-me numa enchente desordenada, correndo e dando guinadas de um pensamento a outro, pulando por cima de lembranças e colidindo com cenas repetidas. As imagens passavam mais depressa do que eu conseguia vê-las. Eu estava completamente confusa.

Resolvi me levantar e tentar ocupar minha mente com outras coisas. Peguei minha caneca da Starbucks e a enchi de café - o combustível que me mantinha de pé. Um solo de guitarra ecoou em meus ouvidos e minha mão correu para o meu celular. Uma mensagem. Era de um cara que estava me paquerando. Estranhei o fato de não sentir nenhum arrepio, nem um coração acelerado, nem borboletas no estômago. Nada. Li, reli, refleti... E percebi que o único nome que vinha na minha cabeça não era o do remetente. Mas o dele.

Foi então que eu percebi que eu não tinha como escapar. Ele havia me ganhado. Eu tinha medo de gostar, de amar, de me entregar pra qualquer pessoa. Aí ele entrava na minha vida. Seus olhos cor de madeira, seu sorriso brilhante de canto de boca. Todo o seu corpo me chamava atenção. Sua postura, seu jeito de falar. Tudo me atraía, era como se uma força me puxasse para ele. E de repente já não era mais possível fingir nem fugir.

A vida tem dessas coisas. E nessas coisas, eu me dou mal lindamente.

Agora me pergunto de que exatamente tenho tentado escapar: dos sentimentos ou do fato? Fui capaz de escapar dos sentimentos - por uns tempos. Os sentimentos a gente pode enterrar, suprimir, negar, ou convencer a si mesma de que não existem.

Mas o que pode mudar ou apagar o fato? Até agora não pensei em nada.

E o fato é que eu estava apaixonada. De novo. Outro fato era que eu precisava urgentemente desabafar. Liguei para duas de minhas melhores amigas e combinamos de nos encontrar. As vezes algumas pessoas falam o que não queremos ouvir. Outras vezes, elas falam o que no fundo queremos ouvir, mas temos medo de escutar.

Depois que nos encontramos, expliquei a elas tudo o que eu estava sentindo. Desabafei e coloquei tudo pra fora. Agora era a vez delas.

- Primeiro você tem que admitir para si mesma - falou uma das minhas amigas - você gosta dele?
- Eu não sei, eu...
- Você fica nervosa e sente borboletas no estômago quando ele fala com você?

As borboletas. Elas insistiam em me perseguir.

- Sim, eu sinto.
- Então você gosta dele. Diga isso com a sua boca.
- Eu... - engoli em seco - Eu gosto dele.

Gritinhos histéricos, abraços sufocantes e sorrisos espontâneos. Será que isso era bom?

- Não quero criar esperanças em você - disse a outra, sorrindo de orelha a orelha - mas eu tenho quase cem por cento de certeza de que ele tambem gosta de você!
- Todo mundo ta falando isso, e todo mundo quer ver vocês juntos! - completou a primeira
- Ah, vocês combinam tanto! - as duas suspiraram
- Parem de dizer essas coisas, gente. Eu tenho medo. Eu não quero gostar dele, vocês sabem que eu me apego fácil... Não quero isso pra mim, principalmente com ele. Além do mais, ele nunca vai querer ficar comigo. - disse, olhando meu reflexo no vidro espelhado - Como um cara como ele iria querer ficar com uma menina assim?
- Você sabe que é completamente possível, e até mesmo provável que ele goste. Só você não vê isso.

Eu não via ou não queria ver? Acho que estava perdendo um jogo contra mim mesma, não querendo assumir o que já tinha tomado conta de mim.

Eu estava perdida.


Continua, ou não...

(Pepper)

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