sábado, 22 de janeiro de 2011

Cry baby cry



E lá estava eu novamente dentro do ônibus, pensando. Aquela cena se repete várias vezes. Parece que eu tenho uma tendência a pensar na vida enquanto espero sozinha meu ponto. Olhei para o lado de fora da janela e vi crianças brincando na rua. Inocentes, ainda não tinham malícia. Como eu gostaria de voltar a essa época, quando eu ainda conseguia olhar os outros nos olhos.

Passei a tentar fugir do problema, evitava encará-lo de frente, como sempre costumava fazer. Só depois descobri por quê os problemas me perseguem: EU era o problema. Você pára de procurar monstros debaixo da cama, quando descobre que eles estão dentro de você. Minha vontade era de me fechar numa bolha, não para me proteger, mas para não machucar ainda mais os outros. E machucar os outros é pior do que ser machucado.

Eu era um monstro.

No fundo eu queria sumir. Mas como suicídio é pecado, eu passei a guardar tudo pra mim. Minhas dores, minhas lágrimas, meus problemas. Assim eu pelo menos tinha a impressão de estar me tornando invisível aos poucos. Pensava estar me matando lentamente de uma maneira mais sutil.

Não chamo isso de drama. Drama é se fazer de pobre-coitado para conseguir atenção. Chamo isso de intensidade: sentir tudo de um jeito mais forte, e guardar tudo para si mesmo. As vezes parece que eu gosto de ficar me remoendo. Curtindo minha dor. Autopiedade é a reação de orgulho ao sofrimento.

Percebi que eu sou orgulhosa. Sou tão orgulhosa a ponto de não admitir que sou orgulhosa.

Nesse ano eu chorei exatamente duas vezes. Foi acumulando, acumulando, acumulando; e eu me segurando, fingindo ser forte. Só o meu travesseiro sentiu o peso das minhas lágrimas o encharcando. Comigo é assim: só choro quando transborda. Choro tudo de uma vez, compulsivamente. E então me preparo para mais um período de seca. Costumo guardar as lágrimas para depois. Mas o depois nunca chega.

Dói.

Dói pensar que as pessoas consideram o seu problema "bobagem". Dói saber que você não faz nada certo. Dói perceber o quanto você é idiota, ridículo, falso, egoísta, mau-caráter, mentiroso, interesseiro, medíocre e hipócrita.

Talvez seja por isso que eu tenha me tornado tão dependente dos meus irmãos. Eles têm maturidade o suficiente para me aceitar sendo assim tão falha. Eles vivem a mesma pressão que eu, entendem o que é ser cobrado por ser exemplo.

Não sou digna de ser um exemplo. Nem tenho condições pra isso. Eu tento ser um exemplo. Tento ao máximo buscar a santidade, e até mesmo a perfeição. Mas o máximo que eu consigo é ser um lixo.

Desisto de mim mesma. Eu não tenho mais solução. Se eu pudesse eu me devolveria para a fábrica dizendo: tome. Veio com defeito. Não quero trocar, só quero meu dinheiro de volta.

(Pepper)

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