quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Here without you



As coisas pareciam finalmente estar caminhando. Suas mensagens ficavam cada vez mais frequentes, e a gente se falava todo dia. Ele era a única pessoa que me entendia, e a sua preocupação por mim fazia eu me sentir amada, afinal. Eu também o entendia, e ajudá-lo era um prazer pra mim. Seus conselhos me faziam crescer e eu me via nele. Ele era capaz de me fazer esquecer que há um mundo cruel lá fora, e me mostrava sempre o lado belo e colorido das coisas. Ele fazia as borboletas dançarem dentro de mim ao som do amor.

Eu o amava, e estava irremediavelmente hipnotizada pelo seu olhar. Seu olhar não era apaixonado, nem sedutor. Mas ele tinha um tom... Uma clemência envolvente que tornava impossível não deixar que isso me acometesse.

Então ela voltou.

As coisas mudaram, e o que antes era cuidado se tornou descaso. As ligações se tornaram raras e ele nem fazia mais questão de me cumprimentar. A amizade cúmplice acabou se tornando uma amizade cheia de interesses egoístas por parte dele. Só ligava para falar dela, ou para pedir alguma coisa. Ele se afastou. Mas não partiu meu coração, ele partiu com ele, levou-o consigo. Ainda assim eu sentia pulsos chocando-se entre minhas vértebras, impulsionando vida.

Meu bip permanecia cantando como sempre; e dessa vez era um pouco diferente. Ele ligava. Meu coração insistia em dar um salto toda vez que eu lia o nome dele no visor do celular.

- Estou tão feliz por tudo ter voltado ao que era antes! Agora as coisas com ela estão finalmente se ajeitando. - ele dizia, com uma empolgação desnecessária. Eu sabia que era só piscar os olhos e ela o largaria novamente. Eu sabia que a esperança alimentada por ele logo seria esmagada por mais uma decepção. E quem estaria lá para confortá-lo? Eu sabia que não seria ela.
- Ah, que bom... - eu desenhava um bonequinho numa forca em um dos post-it esquecidos em minha mesa.
- Ontem eu falei com ela, e foi como se nada tivesse mudado entre nós!
- Hm, que ótimo... - enforquei o bonequinho e passei a procurar a caneta vermelha.
- Ela disse que estava com saudades de mim, e que valorizava muito a nossa amizade! - a voz dele continuava a se propagar, até eu finalmente achar a caneta e voltar ao meu desenho macabro.
- Fico feliz... - falei, entediada.
- Puxa, você está tão estranha esses dias, tão distante... Nem parece a garota que conversava horas comigo, rindo e se alegrando quando eu ficava feliz. - parei de desenhar o sangue escorrendo do meu bonequinho (que eu ainda estava a decidir se era ele ou ela), para então me tocar do que estava acontecendo.
- Eu? - soltei uma risada longa e cheia de desprezo. Eu ria, mas no fundo tinha vontade de chorar. - Acho que você não precisa mais de mim. Afinal, eu fui só um step enquanto você estava mal. Agora que ela está de volta, vocês podem compartilhar essa sua felicidade sozinhos.

E desliguei o telefone. Nunca pensei que um dia seria capaz de fazer isso, mas eu desliguei na cara dele. E, acredite, eu não morri por isso.

Mas logo me lembrei que iria encontrá-lo no dia seguinte. Infelizmente ele frequentava os mesmos lugares que eu. Dormi pensando com que cara olharia pra ele - e que roupa usaria. Eu tinha uma necessidade de estar sempre arrumada perto dele. Talvez fosse apenas instinto feminino. Se bem que ultimamente a única coisa que eu queria mostrar pra ele era meu dedo do meio.

Continua...

(Pepper)

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