quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

You and me



Mais um domingo que você me liga, igual faz há alguns meses. E eu ainda perco o fôlego quando vejo seu nome no visor. Como sou estúpida! Você me ignora enquanto ela está com você e ela continua me olhando com uma feição vitoriosa, como se tivesse prazer em destruir a felicidade dos outros. Você não enxerga isso. Aliás, você não sabe ao certo o que vê. Você passa por mim com esse seu jeito desajeitado, me deixa intoxicada com seu perfume, me faz suspirar com seu sorriso, e vai correndo para os braços (ou não seriam garras?) dela. Não sei o que eu vejo em você. Aliás, também não sei ao certo o que vejo.

Você é um idiota, um cara ridículo, uma criança, um bobo-alegre, um deslumbrado, um chato. Mas você é homem, e talvez seja por isso que eu continuo te suportando. Por mais imbecil que você consiga ser, eu continuo aturando suas crises, ouvindo seus murmúrios, lamentando suas decepções, te aguentando. Te amando.

Aí você me liga. Eu deixo o telefone tocar algumas vezes pra não parecer ansiosa. Eu atendo, suspiro, perco o ar. Sua voz inunda meus pensamentos, e todos eles se voltam para você. Sempre você. Você ri de alguma coisinha boba e eu me desmancho com o som suave e agradável na sua risada. Você conversa assuntos banais e eu me sinto nas núvens. Ah, a sua voz é linda, é única. De repente você comenta algo sobre ela - a indesejada, sobre como você sente saudades dela, e vice-versa. Meu coração murcha timidamente, sem querer chamar muita atenção sobre a sua dor. Você desliga e eu ainda fico com o telefone nas mãos, pensando que eu poderia ter falado isso, deixado de falar aquilo...

E eu durmo pensando em você. Em todos os meus sonhos você está presente. Apenas nos sonhos.

Passo a semana inteira preocupada com você. A cada dia as coisas pioram. Ela estraga nossa amizade, apenas para manter o monopólio. Fico mal por causa disso. Me lembro de como eram as coisas até uns meses atrás. Você era meu irmão gêmeo e a gente ria toda vez que descobríamos alguma semelhança entre nós. Tão parecidos... Nós conversávamos sobre tudo e você me entendia. O único. Você me completava de uma certa maneira.

Eu nunca vou entender. Eu nunca vou saber porque a vida é assim. Eu nunca vou entender porque a gente fica mandando indiretas ao invés de falar a verdade na lata, porque a gente continua discutindo por causa dela, nem porque a gente nunca teve nada. Nunca vou entender porque você ainda insiste em conquistá-la, sabendo que ela só quer te usar. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais. Eu e você. Não dá.

Quando penso que você já deixou claro que a gente não foi feito um pro outro, eu digo pra mim mesma que nunca mais vou me render aos seus joguinhos. Eu repito, como um mantra, que não vou permitir que você me use como um step enquanto ela não quer te dar atenção. Eu afirmo, com todas as palavras, que não vou mais amar você.

Mas aí, daqui a uns dias, igual você faz há alguns meses, você vai me ligar. E eu vou me render. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo.

Eu sinceramente desisti de te entender. Mas nunca vou deixar de insistir em você.

(Pepper)

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